quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O filho da puta - parte 1

Miguel era um menino problemático e feliz. Complicado entender essa relação, na verdade complicado é entender Miguel. Ele mora em Jusopolis, uma cidade próxima a Deus-me-livre, no interior de Que-merda-de-estado. Um lugarzinho esquecido por Deus ou pelo Diabo. Nessa cidade, mais especificamente na rua dos aflitos, funciona um puteiro que provavelmente é mais antigo que a própria Jusopolis. Miguel é fruto de uma desventura nessa casa. Filho de uma puta, literalmente, Miguel cresceu em um ambiente cercado por mulheres da vida e princípios fortemente estabelecidos e respeitados.
Sua mãe apesar da restrita descrição previa, era uma mulher muito ética valorosa e valorável, a seu modo, seu nome era Rita, Maria Rita. A prostituição era apenas uma consequência, uma fatalidade, como ela mesma dizia, um golpe da vida, rasteira do destino. Filha de nordestinos nunca teve condições, péssima desculpa, na verdade seu pai era um pervertido imoral. Estrupada e violentada desde os seis anos de idade, sua mãe uma coitada, sabia de tudo e nada dizia. Rita odiava a ambos, um por destruir tuda a ilusão de pai que a menina tinha, e a mãe por sua omissão e falta de ação.
Fugiu, ao 12 anos. Conseguiu ajuda de uma vizinha que a muito desconfiava do estranho pai. Fugiu sem destino aparente, não aguentava mais aquela merda de vida. Chegando a uma movimentada rodovia que cortava o estado, conseguiu "carona" na boleia de um caminhão. Descobriu que sua casa era um retrato do mundo, descobriu que ambiente em que estava antes de fugir era tão ruim quanto o hostil e desonesto mundo desconhecido que se abria à sua fulga. Fulga nada, mudança de rotina, porém não de hábitos.
Ferida, aprendeu a ser forte, conformou-se como objeto. Pensou em matar-se, nunca conseguiu. Não conseguia deixar de acreditar na vida, sempre prometendo a si mesma mudanças. Conheceu nessa peregrinação Virginia, mulher vivida, com ares de piedosa, que lhe ofereceu comida e abrigo. Rita sabia, não era tola, nem inocente ao ponto de pensar que lhe ofereceriam tal proteção a troco de nada.

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